O Velho

Caminhando...

sexta-feira, novembro 30, 2007

A busca

Já disse que começo a me libertar, não? Pois acredito que a liberdade e o sentir têm estreita ligação. Uma não vive sem o outro. Conheci pessoas fascinantes ultimamente, mas também relembrei outras que estavam guardadas em algum cantinho dentro de mim. Pessoas que meu sentimento desperto fizeram ver com novos e velhos olhos. Há tanto o que fazer! Preciso revisita-las todas, preciso desatar todos os nós.

É como se fossemos, cada um de nós, ralos sugando tudo ao redor, mas houvesse alguns objetos grandes que entupissem e brecassem o processo.

Cada uma dessas pessoas é um enorme objeto. Preciso decifra-las, liberta-las e me libertar. Preciso transformar-me de ralo a buraco-negro. Então, quanto tiver forças para sugar tudo que minha mente criou - as plantas, a internet, a música, os amigos... - para dentro de mim e me transformar num único ponto, pequeno mas completo, simples mas inteiro, é que minha busca estará completa.

E então, o que? Depois do fim, só resta a morte. Sê bem vinda, morte! Morte que aguardo com tanta paixão, morte que me faz homem, que me instiga a viver!

 

Sê bem vinda!!

 

Pois só contigo é que poderei recomeçar. Só assim sairei do fim para o começo. Alcançarei a tão buscada beleza, serei artista de verdade. Serei instrumento do universo, ferramenta da natureza para expressar seus próprios sentimentos, algo grandioso e verdadeiramente belo, grotesco e verdadeiramente são.

E sinto uma presença intensa em meu peito, uma angústia delirante que pode ser traduzida em fogo ou em frio. Não importa. É algo que se mexe, que instiga mas não incomoda. Muito pelo contrário, fascina e acalma, amplia e dilui. Corroi a ferrugem. E isso dói, mas não incomoda, pois é exatamente o que busco.

E, como em toda busca, termino essa postagem sem uma conclusão. Como em toda busca, termino morrendo, reticente mas não hesitante, completo mas não inteiro...

segunda-feira, novembro 26, 2007

O Amor e o espelho

Como explicar o sentimento? Como explicar o sofrimento? Estava insensível e despertei para algo realmente grandioso. Eu era frio, era defensivo e me distanciava das pessoas. Mas meu coração começou a se mexer. Não me entenda mal, não me julgue.

Nada é como queremos. Nunca é.

É sempre melhor...

sexta-feira, novembro 16, 2007

A arte de morrer

A morte tem relação com o deixar partir.

Tem similaridade com o nada, mas é apenas o novo.

Não ilude pela própria natureza da fatalidade - ser inevitável.

Não agrada, pois transforma. E o que temos sempre vale a pena.

Mas é a essência da busca, o destino final. E o começo de tudo.

A primeira morte a gente nunca esquece.

Há morte dentro da morte. Há vida após a morte.

A segunda morte é o que chamamos de vida.

Palavra é vaso. Poesia é flúido.

Destroi-se a primeira, liberta-se a segunda.

No entanto, há que transportá-la de um lugar a outro. Para isso é que existe a primeira.

Sem morrer, não se pode absorver a segunda.

É morrendo que se chega ao reino dos céus.

A vida não é só o bem, a morte não é só o mal.

Esses conceitos são simplórios, o mal não existe.

Existe apenas o que existe. É apenas o que é.

"Ser" implica em "existir". Há mortes e mortes, de todos os tipos, cores e sabores.

Andar é a morte do ócio.

Sorrir é a morte do vício.

Cantar é a morte do silêncio.

Viver é a morte do sono.

Dormir é morrer para o dia.

Importante é esquecer conceitos injustos sobre o bem e o mal, sobre ser bom e ser víl, sobre viver e morrer. Porque a morte, como normalmente achamos que ela é, assim como o mal, não existe.
Mas é tudo o que temos para nos tornarmos novos.
É tudo o que tempos para nos tornarmos sãos, enlouquecendo.
É um passo da caminhada.
É, enfim, a perda que um dia nos fará seres completos.

sábado, novembro 10, 2007

Sob o olhar

Olha, moça, não sei seu nome
E não espere que não queira saber
Sei que sabe da sede que sinto,
sempre que enseja secar a fonte,
sempre que acho que acho
Que deixo, perco, passo
Espere que fique assim
Por isso mesmo
Sem consequências comuns de macho
pois seria bem melhor.

Mas não, nada disso
Optei pela discrição
Diz que são inevitáveis
essas horas de amargura
Esses dias e meses na loucura
Os anos de azedume
As vidas e vidas errantes
em campos, estradas, desertos e estantes
inabitados
inabilidosos
intolerantes.

Sabe, queria a ternura de teus olhos castanhos
Que é pra poder dormir envolto em mistério,
cantar baixinho de madrugada,
receber tua reação através do contato intenso
da pele.

Olha, moça, dá-me teu nome
teu sorriso, tua vida
Dá-me teu corpo
Tua cintura, pois minhas mãos precisam de apoio
Tua orelha, pois minha boca tem sede
de sons feitos para te sanar.

Dá-me teu gemido leve e tímido
Tuas costas - madeira nobre
Teu umbigo, teu ventre, teu colo
Que esse crime tem dolo,
vítima e testemunha.

Antes mesmo de amanhecer terá ainda suspeito
Teu corpo,
encontrado frio e ampliado
após uma noite inteira de real contato
confirmado nos autos pela deusa da loucura
que, de inveja, sabotou o plano
Teu corpo,
Condenado insano
Tua alma,
Condenada minha
Pois duas não pode haver,
se a que eu tinha, há muito tempo
já era tua.

domingo, novembro 04, 2007

Alguns sussurros

Shiiiiiuuuu...

A rainha ainda está dormindo.

Negra como piche, fria como a morte, sutil como a noite.

Sem perfume, apenas feromônios.

Sem movimento, olhos abertos e penetrantes enquanto sonha com reinos temporariamente distantes.

Sem sono, esse sou eu, atento à sua respiração imperceptível. Atento à língua que, delicadamente, tortura os próprios lábios negros num atrito vagaroso. O que estaria pensando? Sentindo?

Impossível diferenciar prazer e dor, orgasmo e dança. Vejo seus passos sem os ver. Sinto seu toque quando fecho os olhos. Canto em sua orelha delicada enquanto sonho.

E é sonhando que transformo seu sorriso malicioso e indiferente num signo de tudo o que me retém, tudo o que em mim culmina.

Meu sonho é a realidade. Meu desafio é apenas acordar.


Shiiiiiiuuuuuuuuu.......