O Velho

Caminhando...

quinta-feira, junho 18, 2009

Que seria?

 

Estrela que sonhei um dia

de meus sonhos,  que seria,

se não visse o que irradia

de teus olhos, luz infinda?

 

Que seria se não visse

tudo o que tua voz me disse

entre os braços da meiguice

entre os sonhos, que seria?

 

Viveria atado ao leito?

Ia, só , vagar no escuro?

Se o segredo que há em teu peito

viesse só, guardado e mudo?

 

Ao teu lado, luz eterna,

refletida na mulher

Companheira doce e terna,

vivo tudo o que vier

 

E almejo entender

Quero ver no infinito

o mistério mais bonito

e em teu colo eternecer

 

Ser,  crescer e florescer

Luz sem fim que os astros dão

Que seria, cá de mim,

sem teu alvo coração?

 

Parabéns Ana, meu amor, por mais um final de outono de transformações!

quarta-feira, junho 03, 2009

O Lótus – Capítulo XIII

O momento esperado

Naró meditava profundamente. Para Haline e Ichua, ele já estava há muito tempo assim. Para ele, não se passou mais que um breve momento. Não foi por acaso que eles chegaram naquele lugar de lívros empoeirados e escadarias obscuras. Qual deveria ser o próximo passo? O discípulo de Atisuanã estava decidido a não mais andar sem uma caminho definido. Estava cansado de errar. Infelizmente, às vezes só ouvimos a voz da sabedoria depois de percebermos o queando ela é valiosa.

 

Enquanto isso, Haline não perdeu um instante, e vasculhou a biblioteca. A escrita de seu povo era encontrada em grande parte dela. Todos continham ou ensinos da religião quélti, ou das artes da guerra, ou ainda poemas falando da beleza feminina ou da natureza e todo tipo de texto.

 

Ichua, por sua vez, refletia sobre sua conversa com o rei Topa. Certamente era um rei muito poderoso, tanto politicamente quanto na área da magia. De onde vinham aquelas luzes de sua coroa? Que chamas coloridas eram aquelas.

 

Vez ou outra, Haline lia em voz alta, em sua língua natal que era estranha para os dois tirós. Mas num dos lívros, o qual parecia mais entretida, chamou a atenção de ambos com algo que disse:

 

- Estir ma kria narena Siriam.

 

Imediatamente Naró abriu os olhos e ele e Ichua se encararam. Então, levantaram-se correndo na direção de Haline, que se assustou.

 

- Narena Siriam! – bradavam ambos.

 

Haline não sabia o que dizer. Percebendo o interesse dos dois nativos, tentou explicar com gestos o significado daquelas duas palavras. Fez alguns movimentos com a mão, indicando algo como uma casa, ou árvore, que eles não conseguiam entender. Parou para pensar um instante e teve uma idéia. Apontou para o céu.

 

Naró olhou para Ichua, que não entendia. Lembrou do gesto de apontar para o céu que Quityambó, em sua loucura, lhe fez uma vez. Naró segurou a mão de Haline que apontava para o céu, o que lhe causou um inesperado estremecimento, seguido de um calor estranho. Ele lhe fitou os olhos e, mais calmo, disse:

 

- Siriam, narena rudia ka lestrina.

 

Ainda parilisada pelas sensações que teve, começou a perguntar, assombrada, como ele aprendeu a falar sua língua.

 

___________

 

 

Quityambó conduziu o grande mestre Atisuanã, lentamente, rumo a uma clareira. Após colocá-lo para sentrar numa pedra, começou a emitir sons guturais, altos e agudos, com a mão ao lado da boca. Momentos depois, um som parecido veio de longe. Ele, então, repetiu o som. Imediatamente, do meio da mata, surge Viniás, seu filho mais velho.

 

- Está tudo pronto, filho? – perguntou o chefe tiró.

- Sim, pai. Eles estão todos aqui.

- Muito bom.

- Pai…

- Sim?

- Estou feliz que esteja bem. Não entendo suas razões, mas sinto em meu coração que são nobres motivos.

 

Quityambó sorriu para o filho, colocando a mão em seu ombro.

 

- Você muito me honra, Viniás. E sei que honra o grande Deus, também. Preciso que saiba disso agora, pois talvez não mais nos vejamos.

- Ou talvez – corrigiu Atisuanã – ambos se encontrem em outro lugar.

 

Quityambó sorriu para o velho mestre. Viniás ficou ainda mais confuso. Notando o estado do filho, ele disse:

 

- Não se preocupe, filho, não importa se nos encontraremos ou não. O que importa é que tudo acabará bem, aconteça o que acontecer. A morte silenciosa foi apenas o começo da compreensão. Era preciso que nosso povo pensasse que era uma doença malígna. Agora, poderemos finalizar o que nós dois começamos há muito tempo atrás.

 

- Nós dois? – indagou o confuso Viniás.

- Sim, nós dois. Há mais tempo do que um homem pode contar em uma só vida.

 

Viniás permaneceu em silêncio. Quitýambó, mudando para o expressão mais séria, firme, porém serena, fez um leve gesto com a cabeça. Então, o filho do cacique emitiu um outro som gutural. A mata começou a se mexer, sacudir. Dela, diversos membros de tribos diferentes começara a sair, se aproximando dos três tirós.

 

- Sii – disse um dos membros - Estamos prontos para dar nossas vidas pela família do grande curandeiro Atisuanã

 

 

___________

 

No palácio de Topa Capac, o rei está preocupado, meditativo. Batem à porta.

 

- Entre! – brada.

 

- Meu rei, está tudo pronto. Basta uma ordem para iniciarmos o extermínio de todos os nossos malditos inimigos.

 

O rei olhou aquela figura curvada ajoelhada à distância. Pareceu vacilar por um instante mas, enfim, disse:

 

- Que seja, então. Estou pronto para retornar a Siriam narena.

 

 

 

continua…