A dona da chave do inconsciente
Continuo a escrever por sua causa.
Mas quando penso em teu sorriso, sinto luz, calor e paz, não sinto tesão algum.
Quando penso em te abraçar, não mais imagino envolver teus seios com meus lábios, não penso em tuas coxas ao redor da minha cintura, muito menos imagino como seria roçar minha barba de leve nos pêlos tímidos da sua barriga...
Penso em girar, cada vez mais rápido, com você em meus braços, gargalhando como numa comédia romântica bem clichê, enquanto teus cabelos vão se desprendendo pouco a pouco. E ambos subimos, flutuamos, juntando todas as imagens em misturas impossíveis, como num quadro de Picasso, fazendo das nuvens rostos e das montanhas cogumelos, como num sonho de Dali.
E continuo pensando, criando, sentindo. Porque sei que você lê, como está lendo essa pequena prosa agora. Não está? Me avise se estiver enganado... Basta não dizer nada, que me retiro de cena, apago as luzes, fecho as cortinas e as portas do teatro eu mesmo, pra que você volte no dia seguinte, magnânima, como todas as belas surpresas e nos lugares que o destino lhe reservou: Os palcos da vida, as ruas-palcos de vidas-sonhos, os sonhos lentos de amores vãos, de paixões antigas e ilusões futuras, de imaginação, grito e desabafo, angústia profunda, o Drama universal...
Pois tenho paz mesmo longe de ti. O não-sentimento que lhe guardo é algo belo, muito além de teus cuidados e preocupações em não falar comigo. Isso sim me deixa triste, mas não muito. Pois sei que faz de propósito. E seu propósito é nobre. Mas sei que nenhuma ação proposital é fruto da indiferença. E sei mais: Um dos opostos da indiferença é o que eu "sinto" por ti.
Não preciso mais dizer o que "sinto", né? (Acho que já repetí isso à exaustão! E não quero mesmo te exaurir...). Só sei que toda musa é manifestação da divindade feminina, dona da chave do inconsciente que nós homens tanto buscamos.
Você é quem guarda essa chave pra mim. Ponto final.
;-)