O Velho

Caminhando...

quinta-feira, junho 28, 2007

Nair

Sempre que me encontro num beco sem saída penso nela. Ela que sempre soube me dar seu carinho e seu colo quando eu mais sofria, mesmo sendo seu fardo maior.
Meu dilema é o de buscar pela intuição elementos que interessam, sem saber me erguer no escuro. O lado feminino da divindade. Mas não consigo, o pai é sempre meu refúgio.
Porém, hoje lembrei dela mais uma vez, e comecei a pensar que seria assim algo parecido com a divindade feminina. Porque não? Minha vó era uma pessoa boníssima e sábia. Os sábios são pessoas neutras, que não gostam de interferir. É minha busca interna, por menos razão e mais sentimento, pelo que há de oculto dentro de mim. Mas estou arrastando o processo demais. Devagar demais. E isso me tortura. Essa loucura que não se definine me faz são demais!
Quero sumir, mas estou sempre feliz! Quero contribuir com o trabalho dos outros, mas ninguém contribui com o meu, e isso não me incomoda. Aliás, não me incomodava. Agora tudo vem à tona, os submarinos, os tubarões, os náufragos, as bolhas, Manhattan.
Cada dia mais vou seguindo pro lado que me puxam, cada dia mais entregue, inerte, inútil. E essa vontade de explodir que não passa... To ficando chato mesmo, pode dizer. Tô nem ai. "Pô, toda hora com esse papo de explodir!". Quer que eu fale o que, se é isso que quero? Acho que vou entrar pro Hamas, pra Al Qaeda, sei lá... Não, não... Melhor explodir sozinho, sem levar outras vidas comigo. Melhor implodir! boa! Lógico! Já estou implodindo, aliás. Não dá pra saber o que acontecerá após. Sabe-se apenas que a vida há de cessar, o estomago não mais vai roncar, as lontras não mais voarão. Elas cairão para o fundo do fundo do oceano, o pélago mais profundo do mundo... perdão pelas rimas, senhor! Senhora... Ô, vó! Dá um jeito em mim... Não tem rima quando não tem ação, não tem palavra. Não tem som. O fim é sempre o começo, como me disse a rainha num sonho. E o que é o começo? O fim?
Foda-se o fim e o começo, foda-se o mundo, foda-se quem gosta de atores-gado que seguem sempre a mesma linha, e essas porras de prédios-teatro feitas por políticos de merda que não querem saber de nada além de ter um palanque pra poder falar entre um espetáculo e outro.
O jurado do festival criticou nossa experimentação, e ainda me disse: "Daqui há vinte anos vou te ver no palco italiano de novo!" Vamo ver!! Admito que errei muito nas experimentações. Admito que muita coisa não funcionou. Mas outras coisas funcionaram maravilhosamente bem!! A coisa pendeu mais para as críticas do que para os elogios. Foda-se. Eu chuto o balde mesmo, foda-se, foda-se, foda-se (perdão, vó). Nós acertamos no que mais acreditávamos acertar! É o que interessa. Sinal de que tinhamos uma noção razoável do que estávamos fazendo. E ai de quem não experimentar! Não ousar! Ai dos atores-gado que rumam sempre para o mesmo lugar!
Né, vó? Ai, que vontade de deitar minha cabeça no seu colo, dona Nair... Não tenho rumo, estou perdido. Nem Iemanjá, nem Jesus me salvam agora. Preciso retroceder toda a caminhada, repensar as direções. Refazê-las. Pisar no chão de novo para só então soltar esses nós que me cercam. Esses nós que, quanto mais desato, mais se refazem... Paro, respiro, e tento novamente.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

as coisas q mais machucam são aquelas q cabem debaixo das unhas, nas frestas dos dentes, nas linhas das mãos.
eu, q nunca soube conter o sentir, vou domesticando o sofrimento, aprendendo seu nome, conhecendo seus olhos. aprendi q ñ se pode ignorar a dor, ou ela vira o dia do avesso, inunda a casa, encharca a cama e semeia cacos de vidros sob os travesseiros. há q tê-la nos braços como uma filha dileta, há q cantar-lhe um acalanto, há q dar-lhe de comer, oferecer-lhe o seio pra q se alimente do q há em meu peito. há q aprender a amá-la como a uma orquídea q brota nas fendas do corpo, nos pêlos do ventre, no vão dos sentidos. há q torná-la íntima das delicadezas e lágrimas, lambê-la como uma cria e, por fim, devorá-la.
te ofereço meus braços e te peço q tomes tuas tristrezas nos meus olhos, num lugar impreciso entre meu peito e meu ombro, onde deitas o cansaço, onde rio alto do q dizes sem querer sem engraçado.te ofereço então meus sorrisos amarrotados, meu desejo titubeante, fugidio e delicado, de temores e frêmitos, de ânsias e lacunas. e sou menos amargura e mais singeleza na fragilidade dos instantes contados, no fechar de olhos, no despertar entre as frestas das vidas.

17:45  
Blogger O Velho said...

Vou tentar!

ai, ai...

Mas a dor me chantageia, dizendo que eu não gosto dela... Vou ter que provar!

04:16  
Anonymous Anônimo said...

algo q ñ há.
que se houvesse, seria.
ñ como é, se existisse.
q talvez fosse, talvez.
mas ñ, ñ mesmo.

10:07  
Blogger João D'Olyveira said...

"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." (Antoine de Saint-Exupery)

Saudade...
João D'Olyveira

14:56  

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